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Thor Batista, um mês depois: o novo Brasil rico, o pobre e velho Brasil

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Faz um mês que Thor Batista, o jovem filho do homem mais rico do Brasil, atropelou e matou um miserável ajudante de caminhão quando dirigia uma Mercedes SLR McLaren. Thor Batista não tinha álcool no sangue, Wanderson Pereira dos Santos tinha, diz a perícia. Thor guiava dentro da velocidade permitida, também disseram, mas tinha incríveis 51 pontos na carteira, aos 20 anos.

No dia 17 de março, todos pediam o couro de Thor. Ele é jovem, bonito e rico, e sendo assim, no Brasil é intocável. O outro era um pobre diabo. Thor, portanto, foi julgado à revelia no mesmo dia. Cortem-lhe a cabeça! Reação razoável mas desprovida de razão. Todo mundo deveria ser inocente até ser julgado culpado. Mesmo, especialmente, os que mais nos dão azia. Dias depois, a revelação: Thor já tinha atropelado uma pessoa antes. O velho não morreu. Foi ajudado. Subentendido: levou dinheiro. Ainda não é prova de culpa no caso de Wanderson.

Prejulgar um loirinho riquinho é tão imoral quanto prejulgar um pretinho pobrinho. Exigir justiça, nos dois casos, é obrigação e tarefa inglória. No Brasil os ricos jamais são julgados culpados. Nas raras vezes que sim, escapam sem punição. Deveríamos é ter feito do caso Thor um exemplo. Posso sonhar? Uma virada na história do Brasil: o momento em que dissemos ao mundo, e a nós mesmos, que aqui a lei vai valer para todos. Com apuração, perícia, presteza. Até chegarmos à verdade, doa a quem doer. Se Thor cometeu crime, que pagasse por ele. Se não cometeu, que fosse inocentado totalmente, e pudesse olhar a sociedade de cabeça erguida. Bonito, né?

ok Thor Batista, um mês depois: o novo Brasil rico, o pobre e velho Brasil

Brasil real: nem uma coisa nem outra. O processo provavelmente será arquivado, embora ninguém acredite na inocência de Thor. Porque é filho de bilionário. Pelo currículo de motorista que ignora as regras do trânsito. Porque o carro e a bicicleta foram removidos. Porque Eike disse desde o primeiro momento que seu filho era inocente (e o que deveria ter feito? Bem, Eliane Brum já discutiu brilhantemente a diferença entre ser pai e superpai). Porque a imprensa foi cheia de dedos com o caso, pelas razões previsíveis. Porque Lula ligou pra Eike pra prestar solidariedade. Porque Márcio Thomaz Bastos foi contratado para defender Thor.

Muitas razões, nenhuma prova contra Thor. Mas no que acredita a opinião pública? Bem, o advogado da família de Wanderson começou combativo, garantindo que ia exigir mundos e fundos de indenização. Thor garantiu que iria ajudar a família em tudo que pudesse. O que nós, brasileiros, entendemos: morto Wanderson, sua família realisticamente viu uma boa oportunidade de faturar. Embolsou seu cala-boca e tudo ficou por isso mesmo. Ora, comentou o meu amigo ali da banca de jornal, já que o cara morreu, pelo menos é uma chance para a família melhorar de vida...

Foi isso? Foi diferente? Jamais saberemos de fato, mas o martelo foi batido. Thor será inocentado, mas nunca será julgado inocente. Wanderson, segundo a polícia, é o ciclista bêbado que causou o acidente. Jamais terá justiça. Thor Batista também não - daqui trinta anos, ainda será o playboy irresponsável que matou o miserável e saiu na boa.

Fosse o contrário, um Wanderson com carteira estourada matando o filho de Eike Batista em circunstâncias idênticas, estaria livre? A única resposta honesta que um brasileiro pode dar: não. Thor simboliza o novo Brasil rico. Wanderson me faz pensar: pobre e velho Brasil.

 

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